Como avaliar e responder as campanhas de informações falsas

novembro 17, 2023

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Um framework para avaliar e responder a campanhas de informações erradas e desinformação na era digital

Este é o segundo post do blog em uma série em duas partes. Para explorar os temas que definem nossos ecossistemas informacionais e desafiam democracias em todo o mundo, leia aqui a parte 1.

Quem presta serviços cruciais e organiza campanhas em uma variedade de temas importantes esbarra o tempo todo com informações erradas e desinformação, no geral, em meio à leitura cotidiana de mídias sociais e de notícias – e não por meio de um monitoramento dedicado a isso. Normalmente, alguém da equipe vai esbarrar em algum conteúdo problemático, talvez em plataformas como o TikTok, e, em um ato contínuo, vai compartilhá-lo com o time. Frequentemente, a ação de resposta que virá à mente é algo como “Devemos desmascarar isso!”. E alguma forma de diálogo se organiza, no qual a equipe decide o que fazer.

É um momento importante, no qual pesquisadores e a ação potencialmente se encontram – mas muito frequentemente saem do eixo. Nessas conversas rápidas, que podem ser apenas uma troca de curtas mensagens, geralmente há falta de informação ou de avaliação sobre:

  1. o risco que se apresenta;
  2. A verdadeira disseminação do conteúdo problemático (Quantas pessoas estão expostas? Que pessoas, especificamente? Por que estas pessoas?); 
  3. A variedade de possíveis ações responsivas estratégicas disponíveis, além do descrédito.

Diversos parceiros da sociedade civil têm descrito para nós este cenário no qual é extremamente difícil saber em quais ameaças vale a pena usar os recursos limitados e como lidar com eles sem tornar as coisas acidentalmente piores. É muito fácil que uma sensação de paralisia tome conta e que as equipes tenham dificuldade para usar sua experiência e criatividade com confiança.

Embora não sejam poucas as organizações que monitoram e rastreiam campanhas de desinformação, a Purpose tem observado uma lacuna entre a investigação, que é importante, e como ela é usada para embasar ações efetivas.

Para reduzir esta lacuna entre investigação e ação, desenvolvemos um Modelo de Resposta para avaliar e planejar as melhores ações contra ameaças online, provendo estrutura e direcionamento para obter diálogos melhores com mais rapidez. No momento, o Modelo de Resposta da Purpose pode ser usado por indivíduos e por equipes e consiste em um framework simples que oferece orientações sobre como responder a uma ameaça online, como uma campanha de desinformação. O modelo conduz os usuários ao longo do processo, desde a interpretação da ameaça até a tomada confiante de ações, com base nas melhores práticas. A ideia é que seja utilizado de forma colaborativa, dando a equipes uma linguagem comum e orientações para agir perante ameaças.

Modelo de resposta a ameaças on-line para combater campanhas de desinformação

Nosso Modelo de Resposta a Ameaças Online oferece orientações
estratégicas específicas para diferentes tipos de ameaças de desinformação.

Direcionamento de ações por meio de avaliação e resposta estratégica

O modelo apoia os usuários em dois principais estágios: avaliação e resposta.

Em primeiro lugar, em vez de apenas dizer “Veja esta coisa terrível no Twitter”, pesquisadores são orientados a avaliar as ameaças de acordo com definições sólidas de impacto e alcance potenciais. Esta parte do Modelo se fundamenta na Matriz de Ameaça, que foi apresentada a nós inicialmente pela GQR, que, por sua vez, incorporou a Escala de Breakout de Ben Nimmo. É também parecida a frameworks de risco ou avaliação que você ou a sua equipe podem já estar familiarizados.

Análise do alcance e do impacto das campanhas de desinformação

A Matriz de Ameaças da GQR permite avaliar e priorizar
ameaças online de acordo com seu alcance atual e o impacto potencial

Pesquisadores podem fazer a avaliação das ameaças, mas descobrimos que as avaliações mais úteis são feitas quando há uma variedade de stakeholders envolvidos e bem informados. Isso ocorre porque “risco potencial” tem diferentes significados para quem encara o problema a partir de diferentes perspectivas. Ao estruturar esta parte do processo de forma a incluir um briefing e diferentes perspectivas, facilitamos momentos poderosos em que suposições incorretas podem surgir e ser corrigidas.

Em segundo lugar, uma vez que uma ameaça é avaliada, o Modelo de Resposta oferece orientações sobre a estratégia mais apropriada para combater aquela ameaça específica. 

São dois objetivos principais:

a) ajudar equipes a evitar amplificar acidentalmente ameaças de baixo impacto ou alcance; e
b) apresentar uma variedade maior de estratégias apoiadas em pesquisas que levem as equipes a refletir e aproveitar a sua experiência, criatividade e conexões. 

Um exemplo disso na prática foi quando um time de ativistas climáticos passou de uma abordagem contundente de fact-checking (que corria o risco de chamar atenção para o conteúdo problemático) para uma abordagem de “inoculação”, desenvolvendo a capacidade de um determinado público de reconhecer e navegar em campanhas de desinformação. Ao usar “mensageiros confiáveis” e influenciadores importantes, eles conseguiram atingir o público-alvo que importava. Isso fortaleceu as conexões em vez de alienar o público.

Na prática, o modelo classifica uma série de Objetivos de Resposta em cada célula da Matriz de Ameaças que as equipes podem buscar. A classificação de prioridade para cada objetivo indica quão apropriado é para abordar este tipo específico de ameaça. A ideia é que sejam um ponto de partida para ajudar equipes a elaborar intervenções estratégicas. Eles são baseados em uma combinação de pesquisa acadêmica, melhores práticas e na nossa experiência com campanhas.

Personalizando táticas com base em contexto e recursos

O modelo oferece uma meta clara para ser alcançada, e então, as táticas específicas para alcançar aquele objetivo podem ser elaboradas com base em contexto, localização, públicos e na alocação de recursos necessários. Isso importa porque cada ameaça tem características e contexto únicos – e cada resposta tem as suas habilidades e recursos para a ação.

Em comparação com uma abordagem mais prescritiva que direciona o uso de determinadas táticas (por exemplo “reportar conteúdo a determinada plataforma”), temos visto que, ao recomendar objetivos estratégicos mais amplos para que sejam alcançados ou com os quais devemos estar alertas, apoiamos melhor a criatividade dos nossos parceiros, obtendo uma discussão mais rigorosa e orientada à ação.

Nosso recurso adicional oferece exemplos e orientações sobre como buscar e avaliar ações direcionadas a tais objetivos. Tendo este guia básico em mente, indivíduos, equipes e coalizões podem discutir como as suas habilidades específicas e recursos podem atingir esses objetivos dentro dos seus contextos.

Objetivos de resposta para combater campanhas de desinformação

Os Objetivos de Resposta oferecem uma rota na direção da
tomada confiante de ação para combater campanhas de desinformação

Vantagens de usar o Modelo de Resposta para combater campanhas de desinformação

Ao fornecer uma estrutura para avaliar e planejar contra-ações, descobrimos que o Modelo de Resposta ajuda equipes a lidar com ameaças online embrionárias de diversas formas:

  • Reduzindo ambiguidades – por meio de uso de uma linguagem, estrutura e orientações comuns para debater as ameaças online e como agir contra elas;
  • Fornecendo um ponto de partida para as intervenções – através da priorização de objetivos de resposta apoiados em pesquisas para reduzir especulações sobre como responder às ameaças online;
  • Enfrentando o instinto de corrigir – a tendência de responder de forma direta ou de corrigir a desinformação é, muitas vezes, uma resposta ineficaz e prejudicial;
  • Aproximando pesquisa, campanhas e outras funções – o que garante que as pesquisas apoiem de forma mais direta o desenvolvimento de campanhas e que os aprendizados das campanhas alimentem, por sua vez, o design das pesquisas;
  • Ajudando a alocar recursos de forma eficaz – o que permite que equipes usem os recursos e os relacionamentos que têm à mão para tomar ações com confiança.  

Temos usado nosso Modelo de Resposta com clientes e para facilitar o planejamento de respostas rápidas e coordenadas entre múltiplos times e parceiros.

Continuamos a implementar e a iterar o modelo de resposta, bem como outras ferramentas e infraestrutura para ajudar quem luta contra ameaças online em nome de causas progressistas.

Para saber mais sobre como funciona nosso modelo exclusivo de resposta, baixe o guia do ativista para combater a desinformação ou fale com a gente por aqui.


Luke Bacon Associate Director, Research, Learning and Impact
Andrea De Almeida Head of Innovation and Partnerships
Justine Szalay Strategy Director
Como responder às informações Erradas Online:
Um guia digital de combate à desinformação.