Água: O que impede o nosso avanço?

junho 26, 2023

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Explorando o papel das Narrativas e Storytelling para catalisar a colaboração entre setores para soluções hídricas.

O problema global da água: quando a gente ver, vamos reconhecer, certo? Talvez não. A utilização humana da água é complexa e sustenta praticamente todos os demais setores: saúde, meio-ambiente, agricultura, energia, desenvolvimento regional, desigualdade de renda e muito mais. É evidente que a colaboração entre vários setores será fundamental para resolver a nossa crise hídrica. Mas, até agora, os progressos foram limitados.

Na Purpose, somos criadores de movimentos que conhecem e acreditam no poder das histórias. Não há colaboração entre vários setores sem comunicação entre vários setores. Neste post – o primeiro de uma série de 3 partes inspirado em uma discussão entre vários setores que organizamos para a Semana Mundial da Água da ONU 2023¹ – investigamos a forma como as narrativas, a contação de histórias e a colaboração entre múltiplas partes interessadas podem turbinar ações relacionadas à água.

¹ A Purpose fez uma parceria com a Câmara de Comércio Internacional (International Chamber of Commerce), uma organização não-governamental credenciada pela ONU (OSAA – Office of the Special Adviser on Africa, DPI – Departamento de Informação Pública), o governo do Brasil e a Capgemini (anfitriões locais).

O que ouvimos

1. A água se torna mais visível durante uma crise local.

A narrativa mais comum sobre a água responde a uma única crise local ou nacional. Esta abordagem não consegue transmitir uma visão de longo prazo que inspire soluções globais, e não apenas locais. E ao agirmos rapidamente no enfrentamento, perdemos a oportunidade de envolver o público de forma cuidadosa com mensagens, estruturas e valores que repercutem.

2. E quanto à equidade?

Existe um fracasso recorrente no esforço de se levantar questões sobre equidade e honrar as perspectivas e experiências dos grupos mais impactados pelas crises hídricas. As plataformas globais voltadas ao envolvimento do público e que tentam abordar a equidade não são focadas em soluções.

As pessoas ainda têm relutância em falar sobre pessoas e equidade. Não tem problema falar sobre a água de forma abstrata, mas quando ela atinge pessoas reais, a gente fica desconfortável com essa realidadeParticipante da conversa

 

3. A falta de familiaridade com os desafios da água nos coloca em desvantagem antes mesmo de começarmos.

Apesar da ligação íntima da água com todos os aspectos da forma como vivemos, a falta de conhecimento do público sobre a urgência e gravidade das questões relacionadas à água significa que a maior parte das pessoas começa com um déficit de informação básica que tem que ser preenchido. Esta é uma diferença gritante em relação a questões como a saúde e a educação, que são partes rotineiras do discurso público.

Além disso, como a água não é o que vem primeiro à mente para a maioria das pessoas, é difícil mobilizar os tomadores de decisão para apoiar a mudança.

4. Não estamos falando a mesma língua

Uma grande razão para uma consciência pública limitada sobre as questões da água é a falta de uma linguagem ou narrativa partilhada sobre o que enfrentamos enquanto um planeta que é sensível às experiências locais relacionadas às questões da água. (Pense, em contraste, na meta de 1,5 grau para o clima.) Muitos grupos díspares estão trabalhando sobre questões semelhantes sem alinhamento em torno de um objetivo comum. 

“Ao contrário de como entendemos as emissões globais, as nossas discussões sobre a água têm de ser muito mais localizadas. É difícil costurar/alinhavar/encadear/tecer essa história global e local sobre a água.” — Participante da conversa

 

5. Precisamos da voz de todas as pessoas.

A falta de uma narrativa partilhada é agravada por uma falta generalizada de confiança e de responsabilização, que se manifesta em uma relutância em partilhar informações e dados. Os defensores da juventude, em particular, que são amplamente reconhecidos como poderosos defensores do meio-ambiente em potencial, estão invocando uma maior solidariedade intergeracional para que possam se tornar parceiros mais fortes ao lidar com as questões da água. Por exemplo, considere WaterAid‘s Future 15 – uma seleção inspiradora de pessoas jovens e inovadoras que estão tomando decisões com relação a questões ambientais e lutando para salvar o nosso planeta. Um membro do Future 15, a ativista ugandesa de 24 anos e fundadora do Rise Up Vanessa Nakate, defende a importância de novas vozes:

Resolver essas crises inter-relacionadas do clima e da água e, portanto, salvar vidas, exigirá uma mudança radical em todas as nossas sociedades. Todos nós podemos exigir responsabilidade dos nossos líderes. As nossas vozes são realmente poderosas se as usarmos.”

Embora haja mais trabalho a ser feito para aumentar o grau de confiança, elevar as vozes dos jovens e melhorar a participação são os primeiros passos necessários para uma maior solidariedade intergeracional. 

Qual é o próximo passo?

Para ativistas como nós, esses desafios apresentam oportunidades evidentes de impacto. Para aproveitar essas oportunidades, devemos:

  • Desenvolver iniciativas multissetoriais que promovam a confiança entre as partes interessadas. 
  • Trabalhar para uma linguagem e narrativa comuns, incluindo o levantamento de colaborações criativas. 
  • Envolver uma grande diversidade de partes interessadas para construir esta linguagem e partilhar esta narrativa.
  • Aumentar a capacidade de participação das organizações.

Vamos nos mobilizar para construir uma onda de apoio para a ação hídrica. A Purpose vem trazendo seu know-how de mudança narrativa e a experiência de mais de uma década apoiando movimentos em todo o mundo. Como você pode contribuir?

Acompanhe este espaço para mais exemplos de contação de histórias poderosas da Purpose é se ver no movimento da água — e o que queremos ver. 

Para ler a segunda parte desta série de três partes, clique aqui.

 


Corina Kwami Strategy Director
Prachi Rao Strategy Director
Alex Hammer Ducas Senior Director, Private Sector Lead
Alessia García Associate Strategist
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